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Guia para Gestores de Escolas

Especial Educação — Como está sua práxis?

A práxis se fundamenta na ação refletida, reelaborada e reorganizada, articulando diferentes formas de conhecimentos que consideram a totalidade de cada ser.

Algumas ações da educação ainda são muito voltadas à seriação, à faixa etária, a uma concepção de desenvolvimento humano pautada por um padrão, e não à criança como totalidade, um ser inserido num processo contínuo.

Por exemplo: trabalhar Literatura Infantil de modo segmentado, na perspectiva de sistematização da língua escrita cujo resultado é “como produto pronto”, estar alfabetizado, não promove uma relação de apropriação da criança no sentido de estimular o gosto pela leitura, o contato com a literatura e seus diferentes gêneros.

Explore você primeiro a obra e depois viaje com as crianças pelo lúdico, ouvindo as vozes e vendo as imagens. Estimule os imaginários. Trabalhe as linguagens do ponto de vista de leitura de mundo.

Perguntar sobre os personagens principais ou pedir uma síntese do texto não desperta o gosto e o prazer. Pelo contrário, elimina-se a dimensão mais ampla que leva à exploração e, fundamentalmente, ao processo de criação.

O ponto principal é como a criança vai se apropriando de suas próprias construções de conhecimento. Gostamos muito da expressão “comunidade de aprendizagem”. É uma comunidade de aprendizes com diferentes experiências que se relacionam entre si. Se a escola não proporcionar esse universo e, ao contrário, trouxer todas as questões já pré-definidas e pré-estabelecidas, o dia-a-dia e a vida das crianças ficarão de fora do processo de aprendizagem e, assim, figurará o desinteresse, a desmotivação, a não busca pelo significado.

Para a Educação Básica é imprescindível pensar a dimensão de totalidade. Diferentemente da fragmentação: crianças menores, crianças maiores, adolescentes e adultos. É necessário que haja um processo que vá se amarrando ao longo do caminho.

Essa segmentação está relacionada aos paradigmas que temos como referência de vida, em que tudo é muito padronizado. Há profissionais, inclusive, que só querem trabalhar com a mesma faixa etária. Entretanto, a riqueza está na convivência com diferentes grupos.

Uma diretora que atuou muitos anos na Educação Infantil, cuja luta por princípios se deu numa práxis bastante refletida e elaborada, tornou-se gestora de uma escola de Ensino Fundamental. Testemunhou que somente depois de dar esse passo conseguiu compreender a real relação do ensino entre as duas áreas. Percebeu até mesmo alguns elementos que negava na educação da infância. Foi um exercício do olhar aberto no qual viu a criança em sua totalidade de vida.

Há pessoas que refletem sobre a ação do outro, no entanto, a reflexão verdadeira está na própria ação. Se eu não ajo não me aproprio dos conhecimentos. “Eu conheço na ação, reflito na ação e reflito sobre a ação”, conceitua Schön, ecoado por Nóvoa, Alarcão e Zeichner.

Como refletir na ação quando não ouço as falas, os sentimentos, os medos e as leituras das crianças? Se não registro o processo percorrido?

Investigar e identificar as necessidades e os interesses das crianças não é simplesmente dizer: “Fale”. É promover, constantemente, um diálogo com o grupo, com os alunos e sua rede para compreender o que os pequenos estão transmitindo. Podemos estar presentes fisicamente, mas ausentes na percepção e, assim, incapazes de qualificar o que nos trazem.

Em Ao Redor da Mesa Grande, Tereza Vasconcelos observou durante um ano a prática educativa de Ana, professora de Educação Infantil, de Portugal. Ao redor da mesa as crianças participavam e decidiam, juntamente com a professora, sobre as ações do cotidiano. Momentos de troca e discussão democrática que possibilitaram ampliar o conhecimento sobre as crianças.

Outra rica vivência teve uma professora da infância que fazia conselho de classe com suas crianças. Isso mesmo! Elas contavam, umas as outras, como visualizavam os trabalhos. É um modo de conduzir a se olharem. A experiência proporcionou observar que os pequenos, muitas vezes, se posicionavam com muito mais propriedade que a própria educadora. As crianças são muito inteiras e transparentes.

A práxis na ação educativa do educador possibilita desvelar a inteireza e a transparência das crianças, abre espaços para SEREM, assim, podemos conhecê-las e participar por inteiro do seu desenvolvimento, da sua aprendizagem e da construção da sua identidade. Educador(a), na sua ação planejada existe espaço para o exercício da práxis?

Por Emilia Cipriano e Claudio Castro Sanches

Emilia Cipriano é Doutora em Educação, Mestre em Psicologia da Educação e Pesquisadora da Infância.

Claudio Castro Sanches é Mestre em Educação, Especialista em Gestão Educacional e Pesquisador da Infância.

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